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Quer aprender sobre True Crime? Assista ao novo filme de Martin Scorsese

Martin Scorsese em pé conversa com Robert De Niro, Lilly Gladstone e Leonardo Dicaprio no set de Assassinos da Lua das Flores

Martin Scorsese é diretor de cinema, tem oitenta anos e mora em Nova York. Gosta de cinema e de assistir filmes na sala de cinema. Abomina os filmes da Marvel, prefere aqueles com crimes, fatos históricos e um julgamento no final. Ganhou a vida com longa metragens nesse estilo como Casino, Cabo do Medo e Os Bons Companheiros.

Junto com amigos no final dos anos 1960, Scorsese estabeleceu um novo tipo de filmes, feitos de forma mais ágil, criativa e que, no caso da filmografia do diretor, ajudaram a mapear a ganância e a corrupção da vida norte-americana. O mais novo, Assassinos da Lua das Flores, segue exatamente essa linha.

O filme retrata uma história de 100 anos atrás sobre uma série de assassinatos contra o povo indígena Osage, donos de terras ricas em petróleo. Um filme longo, de três horas e meia, mas que é um bom exemplo do porquê Scorsese é um expert do que chamamos de True Crime e que conta pela primeira vez com os dois maiores parceiros do diretor.

O novo filme

O filme Assassinos da Lua das Flores estreou nos cinemas em outubro de 2023

Assassinos da Lua das Flores é adaptação do livro de David Graan, e ambientado na Oklahoma dos anos 1920. O longa começa quando Ernest Burkhart (Leonardo Dicaprio) volta da Primeira Guerra Mundial para viver com o irmão Byron e o “tio” William “King” Hale (Robert De Niro), um ex xerife do condado e que vive em meio aos Osage um povo indígena considerada a população mais rica do mundo na época, tamanha era a riqueza de petróleo.

O enredo se desenrola rápido: “King” Hale” tem um olho no dinheiro e sugere que Ernest se envolva com a Osage Mollie Kyle (Lilly Gladstone), e em meia hora já sabemos que o personagem de Dicaprio é um otário. Com uma hora de filme o plano para pegar o dinheiro está formado e o que acontece até os últimos quarenta minutos só alimenta o desfecho.

Lilly Gladstone e Leonardo Dicaprio foram indicados ao Globo de Ouro 2024 pelo filme

Uma das criticas direcionadas a Scorsese foi se cabia a ele contar a história da tribo. Vinson Cunningham, da revista The New Yorker, deu uma resposta interessante: “O trauma da experiência, claro, pertence mais intimamente ao povo Osage. Mas o que deu origem e o que sobrevive em nossa cultura hoje, isso é algo que toda pessoas que tem alguma coisa a ver com os Estados Unidos precisam se envolver.”

Os erros judiciais que perpetuaram esses crimes e obrigaram os norte americanos a criarem um departamento de investigação federal – o FBI -também são destaques do filme, que termina – sem spoilers – com uma radionovela que encena o desfecho de cada personagem. A cena funcionou como um lembrete de como histórias sobre crimes sempre atraíram audiência, e como a vida real é embalada e vendida pela indústria do entretenimento desde que o mundo é mundo.

As pegadas do diretor

Martin Scorsese comenta um pouco sobre os seus filmes mais conhecidos

Martin Scorsese nasceu em Nova York em 1942. Fez parte do movimento chamado de Nova Hollywood no início dos anos 1970 junto com os amigos Francis Ford Coppola, George Lucas, Steven Spielberg e Brian de Palma. Já dirigiu filmes com os atores Paul Newman, Tom Cruise, Al Pacino, Jack Nicholson e Daniel Day Lewis, mas os grandes parceiros nas telas são Robert De Niro e Leonardo Dicaprio, juntos pela primeira vez em Assassinos da Lua das Flores.

O longa tem elementos que não são novidades na cinematografia do diretor. O primeiro é o amor bandido entre Ernest e Mollie, uma relação doentia e interesseira, com questões de proteção semelhante a dos personagens de Casino (1995) Ace Rosethein (Robert de Niro) e Ginger (Sharon Stone).

O segundo é o abandono do personagem de Ernest, que foi mandado para o exército para fazer alguma coisa na vida. Ao voltar da guerra, ele busca o amparo do tio como se buscasse um mentor. Situação parecida do também personagem de Dicaprio, mas no filme Os infiltrados (2006), onde também existe uma dualidade nas duas figuras paternas interpretadas por Jack Nicholson e Martin Sheen.

Cena do filme Os Infiltrados, onde o personagem de Jack Nicholson encontra o de Leonardo Dicaprio pela primeira vez

Scorsese já dirigiu mais de 25 filmes, e conta frequentemente que a paixão pelo cinema começou quando assistiu Cidadão Kane pela televisão. Venceu apenas um Oscar, em 2007, o qual foi entregue pelos amigos Spielberg, Coppola e George Lucas. Hoje, ele rema contra a maré para fazer cinema à sua maneira, com a quantidade de tempo que for.

Para Dicaprio, presente em seis filmes, “o foco de Scorsese é encontrar o cerne da história através dos atores com quem trabalha. O enredo é secundário. Já De Niro, parceiro em dez filmes, ressalta a capacidade do diretor de mostrar a uma distância segura a parte obscura da natureza humana. Os dois atores já até brincaram em um curta metragem sobre quem é o favorito do diretor.

Assassinos da Lua das Flores de fato é longo, mas o que se sobressai é mais uma vez a técnica de Scorsese em falar sobre crime e castigo, algo que está na moda há séculos e que ele faz bem há muito tempo. O filme foi indicado em sete categorias no Globo de Ouro, incluindo diretor, ator, atriz e ator coadjuvante, e se depender do diretor não será o último, “o problema é que o tempo é limitado e a energia também é limitada – a mente inclusa, é claro. Graças a Deus a curiosidade nunca termina.