
Os banners com o slogan “novos sonhos para sonhar” ficavam nas laterais do auditório da sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, onde Dorival Junior, 61 anos, foi apresentado como novo técnico da Seleção Brasileira de Futebol, no dia 11 de janeiro de 2024. Desde a derrota para a Croácia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2022, a seleção estava sem técnico, e desse momento em diante a CBF deu um show de desorganização.
Primeiro prometeu apresentar um novo treinador no primeiro semestre de 2023, o que não aconteceu. Depois, em julho do ano passado, anunciou Fernando Diniz, que comandaria a equipe de forma interina sob a garantia de que em junho de 2024 o cargo efetivo seria entregue ao treinador italiano Carlo Ancelotti. Fato que também não se cumpriu, afinal Ancelotti renovou o contrato com o Real Madrid até 2026.
Sem comentar o assunto, a CBF demitiu o técnico interino, que fez uma campanha ruim no pouco tempo de comando, e anunciou como técnico efetivo para a próxima Copa do Mundo, Dorival Júnior, que comandava o São Paulo Futebol Clube. Para o paulista Dorival, assumir a seleção brasileira “foi a realização de um sonho”, o qual só foi possível, ele diz, “pelo reconhecimento do trabalho feito no São Paulo”. O Brasil foi a última das 32 seleções que disputaram o último mundial a apresentar um treinador.
O técnico e o 2024 da seleção brasileira
Ex jogador – meio campista defensivo – Dorival tem uma carreira de mais de duas décadas como treinador. No ano passado foi campeão da Copa do Brasil pela terceira vez como técnico, e já comandou também os clubes Atlético Mineiro, Athletico Paranaense, Internacional, Vasco da Gama, Fluminense e Palmeiras.
Na coletiva de apresentação na sede da CBF, ele convocou o torcedor a “voltar a acompanhar e acreditar na sua seleção” e disse que o objetivo do trabalho é que a equipe volte a passar credibilidade. Desde que foi penta campeão mundial em 2002, o Brasil nunca mais voltou a uma final de Copa do Mundo de futebol, e os fracassos nas últimas edições, incluindo o 7 a 1 em 2014, afastaram do torcedor a ideia de que a seleção brasileira é sempre favorita.
O preço dos ingressos – no último jogo contra a Argentina o mais barato era R$ 200 (inteira) – e a falta de identificação de quem torce com quem joga, também contribuem para esse distanciamento entre torcida e seleção. Muitas vezes se paga caro para torcer para um jogador que você não conhece e/ou joga em um time desconhecido do público em geral. Essa falta de empatia com quem veste a amarelinha motivou gritos de olé por parte de brasileiros a favor da Argentina no Maracanã.
O desgosto de boa parte da torcida com o principal jogador também conta nessa indiferença com a seleção. Neymar ainda é considerado um dos melhores jogadores do mundo, inclusive para Dorival, que na coletiva o colocou entre os três melhores do planeta, mas o treinador disse que o Brasil precisa aprender a jogar sem ele. Atualmente machucado, o jogador do Al-Hilal não estará na primeira convocação do novo técnico, no dia 1º de março paras os amistosos contra Inglaterra e Espanha.
Na Europa, em junho, começa a Eurocopa, enquanto nos Estados Unidos no mesmo mês, começa a Copa América. O Brasil venceu o campeonato pela última vez em 2019, e nessa edição está no grupo com Paraguai, Colômbia e um adversário a ser definido entre Honduras e Costa Rica. Já as eliminatórias para a Copa do Mundo voltam em setembro.
A próxima edição do campeonato mundial, em 2026, será a primeira com três países sede – Estados Unidos, Canadá e México – e contará com 48 seleções, 16 a mais do que o formato que vinha sendo utilizado desde 1998. Com a ampliação no número de países, a América do Sul terá direito a seis vagas diretas e uma para participar da repescagem.
Atualmente o Brasil ocupa o 6º lugar das eliminatórias sul-americanas, com oito pontos em seis jogos, e aparenta ser um barco sem rumo que se afasta cada vez mais do próprio torcedor. Uma representação fidedigna da entidade que atualmente gerencia o futebol brasileiro.
A Confederação Brasileira de Futebol

A CBF vive uma crise institucional. O atual presidente Ednaldo Rodrigues foi destituído do cargo em dezembro de 2023 por irregularidades eleitorais. Voltou no inicio de 2024 graças a uma liminar do Supremo Tribunal Federal. O antecessor, Rogério Caboclo, foi afastado por denuncias de assédio sexual. A primeira acusação resultou na suspensão do cartola por 21 meses pela Comissão de Ética da CBF e, após um acordo Caboclo, pagou R$ 100 mil para não ser processado.
No dia 05 de janeiro de 2024, como primeira medida depois que voltou ao cargo, Ednaldo demitiu Fernando Diniz e contratou Dorival. Além de se embaralhar na escolha, a CBF vai pagar a multa rescisória do vínculo entre Dorival Júnior e o São Paulo Futebol Clube, no valor de R$4,5 milhões de reais. Além disso terá que arcar com R$400 mil reais referente a multa aplicada pela FIFA em razão da briga que antecedeu o jogo entre Brasil e Argentina em novembro pelas eliminatórias.
Das 32 seleções que disputaram a última copa, 18 decidiram manter o mesmo treinador no novo ciclo, e 14 apresentaram novos técnicos. Até agora a CBF não deu explicação sobre a negociação mal sucedida com Carlo Ancelotti. Se o slogan da confederação é “novos sonhos para sonhar”, o ideal seria deixar claro quais podem ser sonhados pelos torcedores brasileiros, ai talvez eles voltem a torcer pela seleção.